A tradução de 'poética seca' é 'realidade'...
E você diria: 'mas poesia é amor!'
'Sim!' - continuaria eu, com um sorriso cheio de possibilidades - 'Mas amor não é tudo!'

'Realidade é amor com escolha... amor é base... escolha é sentido!'


Entre sem bater!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Era uma vez uma árvore, a minha árvore linda



Desde pequeno eu via, do banco de trás do carro do meu pai, na entrada da minha cidade, uma árvore. Copa frondosa, centenária. Linda. Todo dia.

Desde sempre esteve alí. Ao menos pra mim.

Sempre que desenhava uma árvore, era nela que pensava. E, brincando com seus contornos, tentava criar os meus. Era minha árvore linda.

Se uma árvore era uma árvore, então era porque ela possuía alguma coisa daquela minha árvore linda. Talvez o verde profundo. Ou a copa vasta. Talvez só o nome, ou o modo com que as folhas balançavam, sei lá.

E com o lápis, daquele jeito que a criança aperta forte no papel, o tronco contava histórias.

Depois fui crescendo. Me tornando homem. E, destemido, mergulhava de cabeça em tudo. Sempre achava que daria pé. E quando não dava mais, pegava a estrada e passava perto da minha árvore. Árvore linda. E sempre, sempre ouvia dela que tudo ia dar certo, que as dores passavam, os trabalhos passavam, os momentos passavam. E o amor. Ah, esse ficava. Tudo que não dependia do outro, ficava. Ao menos era o que ela sempre me dizia quando não dava mais pé.

A minha árvore linda era a certeza de que tudo podia permanecer. Ah, que ideia linda, como a minha árvore.

E cresci mais, envelheci. E mesmo entrando na água com mais calma, sempre buscava a minha árvore. Passava por ela. Do banco do motorista do meu carro.

Acabei de entrar na minha cidade. Bem alí na entrada meu coração parou. Minha árvore linda não estava mais lá. Restaram apenas alguns pedaços no chão. Pedaços de mim.

O ar e a certeza de que tudo pode permanecer. Nada respira.

Minha árvore não está mais alí. Mas um moço bonito me disse pra eu olhar pra mim. Ela, a minha árvore, também está em mim. Até mesmo aquele meu galho que caiu com ela. Está em mim. Porque o amor, ah, o amor, não depende do outro.

E a beleza estava aí, todo o tempo. Aceitando a impermanência, permaneci.

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