Há uma sabedoria no movimento de sístole e diástole, como
diz Cortella. Nosso coração, nosso pulmão, dizem até que o
planeta pulsa. O Universo vem da retração. E logo mais, alguns bilhões de anos depois de você ler este texto, voltará a ser pequeno.
E não somos assim, grãos de areia aspirantes à estrela?
Encapsulados nessa carcaçazinha, vamos empurrando de dentro
pra fora, massacrados de fora pra dentro, pressionados por nossos próprios EUs
superiores, docentes da arte de ter, multiplicadores de células, contadores de
cédulas, rompendo tendões para alcançar um espaço sob o céu azul, tamanha a ilusão
de ótica.
E depois da lida árdua, gastamos ar, fôlego e piedade,
discretamente chorosos pela má sorte de encolhermos, resmungando, até o
reencontro com nossa única, assustadora e intransponível passagem, sistólicos.
Sêneca, sábio, dizia que se temos que chorar, que choremos
antes, juntos. Não depois, por vaidade e culpa.
Atentem, assim, pra grande sacada: o amor.
Se tivermos que amar, amemos antes, juntos. O amor é a única
cola, a única via de acesso. Ponte larga que atravessa, finda e recomeça.
No caminho solitário de volta pra casa, no enfrentamento de nossas
próprias escolhas, o amor é o único farol e a única moeda.
A força está no amor. E no recomeço.
(Em memória de Marcelo Min, Silvana Abreu, Fernando Barros, Maria de Lourdes Clemente, Eduard Heinlik, Mari Bauer, Rosa da Silva Pereira, Eupídio...)
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