Oi, mãe.
Há um mês, quando o médico disse "olha, tentamos de tudo, mas...", o chão, as paredes, o telhado, tudo sumiu. Puff! E alí, escorregando no eco daquela dor que apenas se avizinhava, não havia mais a minha casa. O terreno cedeu e engoliu tudo. Cadeira, relógio, luminária, fogão, cama. Tudo. Nesse limbo, no corredor do hospital, vi uma senhora que aguardava atendimento. Perguntei se ela poderia segurar a minha mão. "Claro, filho", ela respondeu me estendendo a dela. Ficamos alí, de mãos dadas, quietos. Eu esbocei algumas frases meio sem nexo. Ela me dizia que tudo ia ficar bem. Foi um ato de misericórdia, eu acho. Foi o que me permitiu não ser tragado junto com a mobília. Resisti até que chegasse a cavalaria. E a cavalaria chegou.
Um mês. Agora, a falta e a aceitação andam misturadas numa dança meio bizarra. É o processo, né?
E tá tudo certo, mãe, tá tudo certo...
Ah, sim, seus netos vão bem. Eu falo pra eles sobre o poder curativo do tempo... e eles aceitam. E eu também.
Quando alguns alicerces se vão, a gente tem que descobrir como continuar segurando o telhado. E essa talvez seja umas das habilidades mais impressionantes do ser humano.
Eu sigo aqui buscando entardeceres alaranjados.
Te amo, mãe! Saudades...
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